Não é frase de filme épico ou livros escritos há 500 anos. É frase comum, que sai da boca de grandes empresários e produtores rurais, como pensamento “normal”. Em uma mesa com nove deles, a conversa gira em torno da organização do movimento “pelo Brasil”, variando entre piadas recheadas de ódio e discriminação. Meu estômago embrulha, literalmente. Em pleno século 21 e após uma das maiores manifestações democráticas da história recente, renegam o resultado das urnas.
Para o mundo externo eles não têm argumentos comuns, e buscam entre eles uma razoabilidade de discurso, mas não se entendem. Aqui, reunidos como semideuses, se portam como verdadeiros senhores de engenho, temerosos de perderem seus escravos. Frases como “esse povo vai se achar gente”, “Lula vai exigir direitos para os trabalhadores” e “minha mulher não aceitará se misturar com domésticas...”. Se eu não estivesse ouvindo, não acreditaria. Parece tudo surreal e acabo me beliscando para ter certeza de que não passa de um pesadelo.
É um pesadelo. Os chamados “homens do agro” de hoje, são os mesmos que em outros momentos destruíram grãos por acharem que seus produtos estavam baratos no mercado. Os mesmos que atearam fogo em máquinas agrícolas em 2016, protestando contra uma possível ida de Lula para um Ministério a convite da então presidente Dilma. Os mesmos que enriqueceram com as facilidades oferecidas pelo presidente Lula em seus oito anos de governo.
Grande parte deles tiveram acesso a milhões de reais em empréstimos a juros baixíssimos e enriqueceram. Muitos nunca chegaram a quitar os empréstimos que fizeram. Por que esse medo real do presidente Lula, por parte desses senhores? O aumento do financiamento da produção subiu mais de 300%. Linhas de crédito foram criadas de acordo com o perfil do produto. Por exemplo:
O PRONAMP atendia médios produtores, o MODERFROTA e o INOVAGRO atendiam o investimento em máquinas e equipamentos, e já andava o programa ABC- AGRICULTURA DE BAIXO CARBONO. A produção de grãos cresceu 98% de 2002 a 2014, saindo da média de 90 milhões de toneladas para 191 milhões de toneladas. Em números reais, não há argumentos para a participação dos “agros” em movimentos que são antidemocráticos que atrapalham a circulação de produtos.
Talvez, e só talvez, devemos reanalisar o PSR- PROGRAMA DE SUBVENÇÃO AO PRÊMIO DO SEGURO REAL. O que é isso? Um programa criado pelo Governo Federal em 2005, cujo objetivo foi diminuir os riscos do produtor rural. Em 2005 o programa iniciou com 2 milhões e chegou em 2014 tendo atendido 447 mil produtores, com quase 3 bilhões de reais. No início da década de 2000 o Brasil exportava para 120 países e finalizou 2014 vendendo para 210 nações.
Então, senhores do agronegócio, não há argumentos que justifiquem suas ações, a não ser o único, claro e notável: A luta de classes. O desrespeito claro à democracia, o atentado à Constituição e os discursos vazios, são atitudes que demonstram o profundo desrespeito ao trabalhador, o imenso desejo de ter de volta a escravidão, para quem sabe, você se divertir dando uma ou duas chibatadas em quem ousar sonhar ou exigir direitos? Está tudo muito óbvio.
Silene Borges
Empresária e jornalista
Créditos (Imagem de capa): Internet
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